quarta-feira, 28 de maio de 2008

Camille Claudel


"A imaginação, o sentimento, o imprevisto que surge do espírito desenvolvido é proibido para eles, cabeças fechadas, cérebros obtusos, eternamente negados a
luz". Camille Claudel (1864-1943)

Nenhum museu de Paris me provocou tantas emoções quanto o Museu Rodin... Primeiro porque ele é diferente da maioria, uma vez que as obras não ficam estáticas, frias, em uma sala fechada, cercada por redomas de vidro.. elas se espalham por onde antes era a casa do escultor, invadindo seu belíssimo jardim e os antigos quartos e salas daquela mansão. Lá onde antes viveram Rodin, sua esposa Rose, e certamente por onde passou Camille Claudel, sua amante..


"La Valse",
Bronze
(1892-1895)
A primeira versão onde os dançarinos apareciam nus, foi julgada inaceitável. Então, Camille acrescentou um manto, reforçando o efeito de movimento da dança.


Incentivada pelo pai, Camille Claudel pôde desenvolver sua vocação artística, dedicando-se aos seus primeiros estudos de escultura. Aos 17 anos mudou-se para Paris, onde foi recomendada a Rodin. Foi sua aluna, discípula, colaboradora e amante.



"L'age Mur, A Idade da Maturidade"

Camille se inspirou em sua separação de Rodin para compor essa obra, uma vez que ele escolheu na época ficar com sua esposa, Rose Beuret, ao invés de assumir sua relação com Camille. Ela faz então nessa obra uma alegoria do homem de idade madura, dividido entre a juventude (Camille) e a velhice (Rose). Essa obra aparece em duas versões.


"L'age Mur"
Primeira versão
(1893)

Aqui o homem parece hesitar, e a desproporção dos seus braços afastados acentua o caráter dramático da composição.


"L'age Mur"
Segunda versão
(1899)
Aqui, a ruptura é consumada. As mãos da jovem suplicante,
imagem de Camille, são separadas das do homem, envolvido pela velhice.



Após a ruptura, que marcaria profundamente Rodin e sua obra, o sentimento de fracasso afetivo e a solidão encaminharam a frágil estrutura emocional de Camille ao desespero, ao ressentimento e ao ódio de seu antigo companheiro.

Passou a viver isolada em seu atelier, restrita a um espaço úmido e mal conservado. Vivendo pobremente, assistiu cerraram-se suas oportunidades como escultora uma vez que lhe faltavam encomendas para obras em espaços públicos, o que atribuía a influências nefastas de seu antigo mestre. Passou a esculpir para logo em seguida, destruir e enterrar seus estudos e maquetes.

Dessa maneira, melancolicamente foi internada por sua família num asilo de alienados, em 1913. No hospício, ficaria reclusa e quase esquecida de seus poucos amigos e familiares, até falecer em 1943.


5 comentários:

Jonice Oliveira disse...

Serei a primeira a comentar este tópico?!?! Beleza então.
O museu do Rodin também me impressionou muito. Primeiro porque ali era a própria casa do artista. Lembro como hoje. Era um dia ensolarado, passeei pelos seus jardins e não tive que me acotovelar com centenas de turistas chineses para tirar uma foto. Após visitar todas as obras do museu, pude sentar, tomar um café e ver aquele dia lindo. Depois porque todo o processo de criação dele estava ali: os moldes em gesso, os rascunhos em papel e assim por diante. Me deu a impressão de conseguir entender uma parcela mínima do processo de criação dele. E isto me cativou. Melhor do que ver a obra completa, ali para ser glorificada, é ver um pouco de como foi criada. Sei lá... Gosto realmente de ver como do “nada” surge uma obra eternalizada na humanidade. É como humanizar/banalizar ou deuses... Entender este processo me faz admirar mais ainda o artista.
Agora o que mais me impressionou foi, assim que entrei no museu, reconhecer “O Pensador” como um detalhe pequeno em um portal gigante, intitulado A Porta do Inferno. Olhei assustada (pq. adoro detalhes) e me perguntei “mas aquele não é O Pensador?”. Sei lá... Desde que me entendo por gente imaginei “O Pensador” como algo enoorrrrmmmmeeee... Depois tive certeza. O Pensador nasceu daquele portal. E O Pensador original é pequeno também, coisa de uns 50 centímetros...
Bom, o que isto tem a ver com a Camille Claudel? Porque sempre me pergunto o motivo de mulheres brilhantes no que fazem se consumirem tanto em paixões e acabarem com tudo por causa do amor. É um efeito meio “tostines”. Elas são tão boas, tão tocantes, tão destacadas porque são sensíveis e extremamente apaixonadas (a ponto da paixão se refletir em seus trabalhos e não conseguirem separar uma coisa da outra) ou são tão loucamente apaixonadas porque são sensíveis demais (e a sensibilidade exacerbada pode ser notada em seus trabalhos). É uma ‘barafunda’ do ‘caramba’. Mulher é um bicho complexo. E talvez uma das mais complexas seja a Camille Claudel. Um gênio que foi enterrada em uma vala comum... Triste, não? O amor foi sua desgraça. Não sei o porquê, mas algumas de suas obras me lembram alguns versos de Florbela Espanca (outra complexa que eu adoro). Uma dessas é a sua obra L'Implorante (confesso, que me choca até hoje) que me lembra um poema de Florbela chamado Súplica (o segundo, não o primeiro). É como se eu conseguisse visualizar a mulher (da escultura) dizendo o poema. Complexo, né?!

Vaninha disse...

Jow,
adorei o seu comment!!
e já que ninguém mais comenta, vamos nós tricotar sobre Camille Claudel, essa artista por quem eu sempre fui fascinada!!!

Ao chegar no Museu Rodin, a parte que eu estava mais ansiosa para ver era justamente a área reservada a Camille Claudel.. e fiquei muito decepcionada quando vi que se resumia a um cubículo, onde algumas das suas obras estavam expostas..

E pq revoltada?? Já que o nome do museu é Museu Rodin e não Museu Camille Claudel??

Pq para qq um que tenha lido sua biografia e visto o excelente filme (estrelado pela ultra talentosa Isabelle Adjani), é público que Camille foi a grande inspiração de Rodin, e mais do que isso.. muitas obras que estão ali no museu assinadas por ele, não têm um único dedinho seu.. muitas foram feitas por Camille (como a famosa "O Pé") e outras por várias mãos dos seus aprendizes (como a citada e fabulosa "A Porta do Inferno")..

Se vc não viu o filme ainda, recomendo fortemente, pois mostra um pouco da composição dessa e de outras obras que vemos no Museu..

Rodin era prático, pragmático, gerenciou muito bem o seu talento, criando escola de artes, transformando sua casa em ateliê e posteriormente em museu (sim, foi dele a idéia de criar o próprio museu... esperto o rapaz, non?), se auto-promovendo, gerindo os seus negócios, e sufocando sua paixão por Camille em nome do seu sucesso..

Já a nossa heroína, todos sabemos, era pura paixão.. movida apenas por sua obsessão por esse homem.. e nesse meio tempo produzia verdadeiras genialidades com suas mãos, que eram prontamente destruídas pela sua insanidade...

Jonice Oliveira disse...

Pois é... Temos ele, um grande “empreendedor”. Fazendo o seu marketing pessoal, cuidando da sua carreira, escolhendo a dedo os seus discípulos e cultivando a sua glória. Ela, puro sentimento, tentando galgar o belo. Pura paixão. Estas reações contraditórias me fazem lembrar O Banquete, escrito por Platão. Nas “viagens” sobre o que seria o Amor, uma das metáforas é que as nossas vidas seriam um carro, com cocheiro e dois cavalos. Um cavalo branco e outro preto, que podem movimentar-se em direções opostas. Alguns interpretam que o branco é bom e o preto é mau... Prefiro não colocar assim. Apenas são opostos. O branco tenta alcançar vôo, chegar aos céus, atingir a plenitude. O preto guia o carro para o solo, fincando as suas patas no chão. Um é pura paixão. O outro é puro materialismo. Cabe ao cocheiro a difícil missão de manter a carruagem em equilíbrio, controlando o cavalo preto e o branco.

Camille deu “muita asa” ao seu cavalinho branco. Triste. E todo mundo que não controla bem seus cavalos acaba mal. Rodin continuou com a fama, mas será que foi feliz? Búuu pro cavalo preto dele. Oscar Wilde acabou preso, como um criminoso, tendo direito apenas a uma folha por vez para escrever o seu diário (o que resultou no De Profundis). Quer maior tortura para um escritor? O cavalinho branco em plena liberdade também ferrou a vida de Maria Callas por conta de sua paixão por Onassis. E tantos outros exemplos...

É como se os antigos gregos já nos advertissem: o amor, em excesso, é nocivo... Meio paradoxal. Por que nós não temos o direito de mergulhar no melhor dos sentimentos? Apesar de todas as conquistas e de sua História, o ser humano é limitado. Limitado em seus sentidos (apenas 5). E obrigado a ser limitado em seus sentimentos.

Vaninha disse...

Ei Jow... esse papo tá pedindo uma mesinha de bar, e alguns chopps, nao acha? Vou reconsiderar minha ida ao Rio pro show da Adriana Calcanhotto em junho... rsrsrs

Sobre Camille x Rodin..
olha, sinceramente não sei o que é melhor ou menos ruim..
sei que Rodin era esse cara empresário, executivo, que tratava sua arte e seu inegável talento artístico mais como um bom negócio do que como uma grande paixão (coisa, aliás muito rara entre os artistas que abusam da loucura para produzir genialidades)..

interessante a alusão aos cavalos branco e preto..
e o q eu acho q aí se encaixa mto bem a tal palavrinha mágica chamada "equilíbrio".. concordo que ser um Rodin torna a vivência mto chata e igual, sem emoções que nos inspirem a subir aos céus e viver novas experiências.. mas vamos combinar que a loucura da Camille não faz bem a seu ninguém.. menos ainda a ela, é óbvio..

entre os dois extremos, acho que eu particularmente optaria pelo estilo Rodin de viver.. acho q não saberia me deixar consumir pelo amor de forma a me destruir.. meu instinto de sobrevivência ainda é maior.. isso me tornaria uma pessoa fria? talvez! o q tb n é legal, concordamos né?

mas acho q Rodin de certa forma tentou fugir disso qdo se permitiu enlouquecer por Camille.. e nessa época foi onde ele produziu algumas das suas melhores peças.. só nao segurou a onda, de enlouquecer por muito tempo.. e qdo começou a nao dar lucros (Camille se tornou mto exigente e possessiva) o homem prático, de negócios, entrou em açao..

Li em algum lugar um artigo que diz que a paixão é similar a uma doença mental.. individuos acometidos pela paixão possuem sintomas e ativam areas do cerebro equivalentes a doentes mentais..
daí a tal coisa de fazer "loucuras" por amor..
por isso que dizem que existem dois estagios: paixao e amor.. depois de um tempo o proprio organismo, inteligente q é e buscando sempre a sobrevivencia, transforma aquelas sensacoes insanas do inicio da paixao, para algo mais maduro, tranquilo, que desperta mto mais felicidade do que loucura..

foi isso o q faltou pra nossa heroina.. Faltou alguem que trouxesse um pouco de calma pro coracao inquieto de Camille.. mas resta saber se ela abriu sua mente pra isso.. a historia diz que nao..

Jonice Oliveira disse...

..rs.. pré-requisitos pra continuar este papo:

1)mesa de bar com direito a cerveja e frango a passarinho..rs..
2)em casa, com uma(s) garrafa(s) de vinho tinto. Aproveita que o clima aqui no Rio está favorável a isto. Aliás, conheci uma casa ótima, escondida no Centro da cidade, que vende ótimas novidades. :OP
3)quiosque na orla, com alguma(s) caipirinha(s) na mão.
***Quem ler isto aqui vai achar que sou alcólatra..rs.. ***
4)escondida em algum canto, ouvindo a música tema de Edilérbio, fugindo do carro de som contratado pelo próprio... kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Bjs.

Jonice.