"acertei o caminho não porque segui as setas, mas porque desrespeitei todas as placas de aviso". Esse post é motivado por uma discussão que tive essa manhã com uma amiga, que se incomoda com o estereótipo de "mulher gostosa", enquanto o que me incomoda é o estereótipo de "mulher inteligente".
E aí eu fiquei pensando... porque é tão difícil imaginar um ser que seja gostosa sim "E" inteligente.. ou que seja inteligente sim "E" gostosa? E porque mulher gostosa é burra e mulher inteligente é feia?
Fiquei curiosa sobre esse assunto e procurei saber o que se fala(ou) sobre isso. E olha algumas coisas que encontrei:
"Teoria objetiva: mulher inteligente é muito mais sexy" [1]
Nesse texto a autora tenta defender a idéia de que a mulher inteligente é sim sensual, e provavelmente até mais sensual do que a gostosa.. Veja alguns dos argumentos dela.
"A beleza física é fundamental na atração imediata e, de certa forma, ela contribui na sensualidade. É aquela coisa instantânea, imediata, que sem dúvida é muito importante - embora algumas teorias de bom-mocismo finjam que não seja relevante. Serve para atrair, chamar a atenção e pronto. Daí em diante, é preciso mais - e todos sabemos dessa parte teórica. O importante aqui é ter em mente o seguinte: para prestigiar a inteligência não é preciso desprestigiar a beleza física.
A mulher inteligente é mais sensual por ser quase sempre mais ousada (e lasciva). Não é uma safadeza relacionada à promiscuidade, mas sim ao fato de que, por ser inteligente, é obrigatoriamente menos atrelada a amarras morais e mais aberta a experiências e aventuras."
E aí? concordam? discordam? muito pelo contrário?
Eu confesso que concordo, em termos.. Acho que o problema é essa necessidade que temos de atribuir rótulo. Porque tem que ser sempre isso OU aquilo, ou isso E aquilo?
ora, deixem os meus issos em paz..
e viva a diferença que atrai e repele as pessoas. E faz com que essa busca pelo relacionamento ideal seja a eterna luta do ser humano.. no fundo, no fundo todo mundo quer encontrar a sua "alma gêmea" ou pelo menos o seu "corpo gêmeo".. se encontrar os dois juntos então.. que loucura.. (tá boiando e não entendeu a diferença? leia o artigo em
[1])..
Do meu lado, sei que sempre me traumatizou os comentários atribuídos a mim de "a inteligente", "a batalhadora", "a arrogante", a "doutora"..
afinal, sou muito mais do que um título..
gosto desses elogios, sim.. claro! afinal me acho tudo isso.. mas não gosto do que tem por trás disso.. como se fosse uma ironia, ou sinônimo de ser "nerd", "chato", "sem graça"..
E isso me fez lembrar da Elenita.. lembram dela?
A doutora "gostosa" do BBB. Eu ADORAVA ver a Elenita no BBB (sim, é isso mesmo.. sou uma doutora inteligente que assiste BBB sim, e daí?).
Com certeza alguns dos momentos mais interessantes de ver no programa pra mim eram as conversas onde a Elenita expunha sua visão do mundo.. seus comentários inteligentes deram um ar muito interessante ao programa. Não é à toa que Bial defendia explicitamente a Lena no ar.
Tá certo, era louca, temperamental.. mas inteligente sem dúvida.. e gostosa também, porque não?
Mas vocês viram como a pobre Elenita foi massacrada por ambos os lados? Os gostosos não entendiam o que uma "doutora" fazia ali no meio deles.. e os "doutores" em suas "torres de marfim" queimaram a pobre doutora como uma Joana D'Arc dos anos 2010.
Em
[2], num momento de desabafo ela diz:
"O que eu represento é a mesma fragmentação de paradigmas que teorizamos em nossos trabalhos. Ora essa. Doutor também é gente, tem defeito, fala palavrão, comete erros e também tem problemas para pagar o aluguel. Doutor também assiste à televisão, deseduca os filhos, é ganancioso, faz fofocas, intrigas e grita em reuniões subterrâneas de departamento (nesses últimos casos, não estava falando de mim!)... o valor é sempre da fonte que o "autoriza"... O mesmo "Vai, lacraia" considerado cult na voz de Zeca Baleiro, na versão original é símbolo da falta de cultura... Torres superiores e inúteis de marfim. Sou doutora (mesmo que alguns sintam vontade de me roubar o título!), sou mulher, sou menina, pessoa, filha, irmã. Um ser fragmentado como qualquer outro."
E em um outro post a própria Elenita faz um comentário fantástico em um post em seu blog (que é uma delícia de ler.. olha as vantagens das mulheres inteligentes com bom humor). O post é uma conversa no msn dela com um tal "TM" que está em dúvidas sobre o seu relacionamento. E ela lança sua teoria dos perfis x pessoa (a íntegra em
[3]):
". Lena diz:
*tá... minha teoria: A gente pode gostar de pessoas ou pode gostar de perfis. Perfil a gente troca um por outro equivalente, o efeito é igual ou parecido, pessoa não. Se eu me interesso por um cara com x, y, z características, posso arrumar outro com as mesmas, se o interesse é o perfil. Agora às vezes vc gosta de uma pessoa q tem um perfil q nem te interessar interessa... é a pessoa entende? Pode aparecer um perfil 5 vezes melhor q vc vai continuar insistindo..."
Mas diga aí. O que é pior: ser chamada de "gostosa" ou de "nerd"?
Em ambos, acho que o que desagrada é o tal do "estereótipo".. Essa coisa horrorosa ligada sempre ao preconceito, que aprisiona, classifica, rotula e coloca pessoas em caixinhas lacradas, das quais não podem e nunca deveriam sair.
Da minha parte, confesso que eu adoraria que me chamassem de "gostosa" de vez em quando, ao passar na rua.. o que com certeza não vai rolar! :-)
E viva a liberdade de ser o que se é, afinal:
"cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é".
Referências (porque afinal de contas, sou sim uma doutora e é meu papel transformar o cientificismo em moda):
[1] http://www.interney.net/blogs/gravataimerengue/2009/02/03/teoria_objetiva_mulher_inteligente_e_mui/
[2] http://acasosafortunados.blogspot.com/2010/03/gritos-de-liberdade-e-torres-de-marfim.html
[3] http://acasosafortunados.blogspot.com/2010/05/palavras-perdidas-no-msn-ou-filosofando.html
