sexta-feira, 30 de maio de 2008

"All Beauty Must Die"

O post anterior falava de Camille Claudel, e de como uma das escultoras mais talentosas de todos os tempos, encerrou seus dias numa prisão perpétua, em um hospício, esquecida e abandonada..
E o que a conduziu a essa insanidade??

Amar...
Amar a pessoa errada!
Amar alguém que não correspondia à altura o seu amor ...

Depois, fui apresentada a uma música muito triste e bonita, cantada por Nick Cave e Kylie Minogue, chamada "Where the Wild Roses Grow"..
ela conta a história de um casal, que se conhece, se apaixona perdidamente..
o homem vê a moça como "the one", aquela perfeita, linda como as rosas silvestres.. porém, em um ato de inexplicável insanidade conclui que "all beauty must die", toda a beleza deve morrer.. e o que faz?? mata-a à beira do rio onde as rosas silvestres crescem... (veja o vídeo clicando aqui)


...
From the first day I saw her
I knew she was the one

She stared in my eyes and smiled
For her lips were the colour of the roses
That grew down the river, all bloody and wild
....
On the second day I brought her a flower
She was more beautiful than any woman I'd seen
I said, "Do you know where the wild roses grow
So sweet and scarlet and free?"
...
On the third day he took me to the river
He showed me the roses and we kissed
And the last thing I heard was a muttered word
As he knelt above me with a rock in his fist

On the last day I took her
where the wild roses grow

And she lay on the bank,
the wind light as a thief

And I kissed her goodbye,
said "All beauty must die"

Lent down and planted
a rose between her teeth


Naquele lance de um pensamento leva a outro me lembrei de uma outra música, de Raul Seixas, que eu achava também bonita e triste, chamada "A beira do pantanal", onde ele conta a história do homem que matou a mulher que amava e que dizia assim:

Foi lá na beira do Pantanal
Seu corpo tão belo enterrei

Foi lá que eu matei minha amada

Sua voz na lembrança eu guardei:

"Por que, meu querido

Por que, meu amor

Cravaste em mim teu punhal?
Meu peito tão jovem sangrando assim

Por que esse golpe mortal?"

Assassinei quem amava

Num gesto sagrado de amor

O sangue que dela jorrava

A sede da terra acalmou
E lá onde jaz o seu corpo
Cresceu junto com o capim

Seus lindos cabelos negros
que eu
regava como um jardim

A lei dos homens me condenou:

Perpétua será tua prisão
Porque foi eu mesmo quem calou

Com aço aquele coração

E eu preso aqui nessa cela

Deixando minha vida passar

Ainda escuto a voz dela

No vento que vem perguntar:


"Por que, meu querido
Por que, meu amor

Cravaste em mim teu punhal?

Meu peito tão jovem sangrando assim

Por que esse golpe mortal?

Cravaste em mim teu punhal

Por que esse golpe mortal??


Aí eu me pergunto:

quando é que o amor vira essa coisa monstruosa que faz com que os amantes percam o senso da realidade e cometam atos tão cruéis...
e contra alguém a quem supostamente só deveriam dar carinho, afago, cuidados??
Quando o amor vira ódio?
Ou quando o amor passa para o limite da insanidade?
Existe outro sentimento que mova essa fúria de matar que não seja o ódio?
Ciúme? Obsessão?
O que? alguém me explica, por favor?


Um dos meus maiores medos na vida sempre foi o de me envolver com um psicopata!
Tanto que desde novinha sempre que eu começava um relacionamento essa pergunta clássica aparecia: "Você não é um psicopata, é?"

brincadeiras à parte... se alguém souber uma fórmula para reconhecer um psicopata, me avisa, please!.. :)

Pior que esse Nick Cave tem a maior cara de psicopata..
como a Elisa Day/Kylie Minogue foi cair nessa roubada???

Ah eh, esqueci... psicopata que se preze nunca tem cara de psicopata... =/

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Camille Claudel


"A imaginação, o sentimento, o imprevisto que surge do espírito desenvolvido é proibido para eles, cabeças fechadas, cérebros obtusos, eternamente negados a
luz". Camille Claudel (1864-1943)

Nenhum museu de Paris me provocou tantas emoções quanto o Museu Rodin... Primeiro porque ele é diferente da maioria, uma vez que as obras não ficam estáticas, frias, em uma sala fechada, cercada por redomas de vidro.. elas se espalham por onde antes era a casa do escultor, invadindo seu belíssimo jardim e os antigos quartos e salas daquela mansão. Lá onde antes viveram Rodin, sua esposa Rose, e certamente por onde passou Camille Claudel, sua amante..


"La Valse",
Bronze
(1892-1895)
A primeira versão onde os dançarinos apareciam nus, foi julgada inaceitável. Então, Camille acrescentou um manto, reforçando o efeito de movimento da dança.


Incentivada pelo pai, Camille Claudel pôde desenvolver sua vocação artística, dedicando-se aos seus primeiros estudos de escultura. Aos 17 anos mudou-se para Paris, onde foi recomendada a Rodin. Foi sua aluna, discípula, colaboradora e amante.



"L'age Mur, A Idade da Maturidade"

Camille se inspirou em sua separação de Rodin para compor essa obra, uma vez que ele escolheu na época ficar com sua esposa, Rose Beuret, ao invés de assumir sua relação com Camille. Ela faz então nessa obra uma alegoria do homem de idade madura, dividido entre a juventude (Camille) e a velhice (Rose). Essa obra aparece em duas versões.


"L'age Mur"
Primeira versão
(1893)

Aqui o homem parece hesitar, e a desproporção dos seus braços afastados acentua o caráter dramático da composição.


"L'age Mur"
Segunda versão
(1899)
Aqui, a ruptura é consumada. As mãos da jovem suplicante,
imagem de Camille, são separadas das do homem, envolvido pela velhice.



Após a ruptura, que marcaria profundamente Rodin e sua obra, o sentimento de fracasso afetivo e a solidão encaminharam a frágil estrutura emocional de Camille ao desespero, ao ressentimento e ao ódio de seu antigo companheiro.

Passou a viver isolada em seu atelier, restrita a um espaço úmido e mal conservado. Vivendo pobremente, assistiu cerraram-se suas oportunidades como escultora uma vez que lhe faltavam encomendas para obras em espaços públicos, o que atribuía a influências nefastas de seu antigo mestre. Passou a esculpir para logo em seguida, destruir e enterrar seus estudos e maquetes.

Dessa maneira, melancolicamente foi internada por sua família num asilo de alienados, em 1913. No hospício, ficaria reclusa e quase esquecida de seus poucos amigos e familiares, até falecer em 1943.


A arte de escrever...

Recebi o texto abaixo da minha querida irmã Delcina (será que foi uma indireta???)
Achei muito engraçado e por isso posto aqui...

Agora fiquei num dilema: será que eu não deveria pedir ajuda a uma pessoa que nunca teve acesso a estudo para escrever a minha tese??
Quem sabe assim eu não me livro, finalmente, do Exu, Tranca Tese ??



A ARTE DE ESCREVER...

*
QUANDO SE TEM DOUTORADO:
*
O dissacarídeo de fórmula C12H22O11, obtido através da fervura e da evaporação de H2O do líquido resultante da prensagem do caule da gramínea Saccharus officinarum Linneu, 1758, isento de qualquer outro tipo de processamento suplementar que elimine suas impurezas, quando apresentado sob a forma geométrica de sólidos de reduzidas dimensões e arestas
retilíneas, configurando pirâmides truncadas de base oblonga e pequena altura, uma vez submetido a um toque no órgão do paladar de quem se disponha a um teste organoléptico, impressiona favoravelmente as papilas gustativas, sugerindo impressão sensorial equivalente à provocada pelo mesmo dissacarídeo em estado bruto, que ocorre no líquido nutritivo de alta viscosidade, produzido nos órgãos especiais existentes na Apis mellifera, Linneu, 1758. No entanto, é possível comprovar experimentalmente que esse dissacarídeo, no estado físico-químico descrito, e apresentado sob aquela forma geométrica, apresenta considerável resistência a modificar apreciavelmente suas dimensões quando submetido a tensões mecânicas de compressão ao longo do seu eixo em conseqüência da pequena capacidade de deformação que lhe é peculiar.

*
*QUANDO SE TEM MESTRADO:
*
A sacarose, extraída da cana de açúcar, que ainda não tenha passado pelo processo de purificação e refino, apresentando-se sob a forma de pequenos sólidos tronco-piramidais de base retangular, impressiona agradavelmente o paladar, lembrando a sensação provocada pela mesma sacarose produzida pelas abelhas em um peculiar líquido espesso e nutritivo. Entretanto, não altera suas dimensões lineares ou suas proporções quando submetida a uma tensão axial em conseqüência da aplicação de compressões equivalentes e opostas.

*
*QUANDO SE TEM GRADUAÇÃO:
*
O açúcar, quando ainda não submetido à refinação e, apresentando-se em blocos sólidos de pequenas dimensões e forma tronco-piramidal, tem o sabor deleitável da secreção alimentar das abelhas, todavia não muda suas proporções quando sujeito a compressão.

*
*QUANDO SE TEM ENSINO MÉDIO:
*
Açúcar não refinado, sob a forma de pequenos blocos, tem o sabor agradável do mel, porém não muda de forma quando pressionado.

*
*QUANDO SE TEM ENSINO FUNDAMENTAL:
*
Açúcar mascavo em tijolinhos tem o sabor adocicado, mas não é macio ou flexível.

*
*QUANDO NÃO SE TEM ESTUDO:
*
Rapadura é doce, mas não é mole, não!!!



E tenho dito...

sábado, 24 de maio de 2008

Histórias de Assombração: A Perna Cabeluda!!


"Galeguinho do Coque não tinha medo
não tinha, não tinha medo
da Perna Cabeluda..."

Quando eu era criança pequena lá em Barra da Estiva, a gente gostava de brincar de contar histórias de fantasmas pra botar medo em nós mesmos.. sei que é um certo sado-masoquismo que as crianças costumam ter.. mas a idéia era contarmos uns pros outros as histórias mais escabrosas e assustadoras que conhecíamos.. e depois fatalmente íamos pra casa agarrados uns nos braços dos outros, com medo de encontrar com a mula sem cabeça, ou com o lobisomem, ou outro ser assustador por aí..

e quando as histórias envolviam pessoas mortas e o contador jurava de pé junto que viveu aquela situação sobrenatural??? "I see dead peeeeople..."
Impossível dormir depois!!! Nessas horas é muito bom ter muitas irmãs.. eu sempre elegia a cama de uma delas pra pedir arrego.. isso quando não ia pra cama de mainha e pedia pra ela segurar a minha mão até eu conseguir pegar no sono..

Mas eu acho que nenhuma cidade é tão cheia de lendas urbanas e histórias de assombração como o Recife.. aqui essas histórias são celebradas como parte da cultura da cidade...
Outro dia fui conferir um evento mensal muito interessante que tem por aqui, chamado Recife Assombrado..
A proposta é uma encenação a céu aberto das histórias de assombração mais famosas da cidade no local onde o povo afirma de pé junto que as mesmas aconteceram... e olha, são muitas mesmo!!!

Uma das histórias que eu acho mais engraçadas (desculpa, caros recifenses, mas essa só dá pra rir, não consigo sentir medo), é a história da Perna Cabeluda!!!
Essa é talvez a lenda urbana mais famosa do Recife, pelo menos todo mundo daqui já ouviu essa história e já morreu de medo de encontrar a tal Perna Cabeluda que corre sozinha e dá chutes nas pessoas.. até Chico Science incluiu uma referência a essa criatura em sua "Banditismo".. e essa lenda apareceu contada em um comercial antigo da HSBC (veja o video).

Para os não recifenses, leiam essa história "macabra" abaixo:


Contam os antigos moradores do Recife que nos anos 70 essa criatura assustadora rondava e aterrorizava os desavisados transeuntes que andavam à noite em lugares ermos e ruas desertas do Recife.
Segundo contam os que tiveram o desprazer de conhecê-la pessoalmente, trata-se de uma perna, tão somente um membro humano inferior coberto de pelos asquerosos que parece ter vida própria e se desloca aos pulos. Com se a visão do seu aspecto perturbador não fosse o bastante para gelar qualquer coração, a Perna ainda costuma atingir as pessoas com poderosos chutes, golpes precisos que, na maioria das vezes, vão direto ao traseiro das vítimas: homens e mulheres de várias idades e classes sociais conheceram a ira insana da amaldiçoada assombração.

Nas palavras do poeta José Costa Leite, no folheto de cordel "A Véia Debaixo da Cama e a Perna Cabeluda", publicado nos anos 70:

Correu atrás dum sujeito
Que voltava dum forró
Ele viu a perna preta
E correu de fazer dó
A perna cabeluda e feia
Correu quase légua e meia
Atrás, no seu mocotó

Zé Soares no Recife
Viu a perna cabeluda
Em Água Fria e saiu
Numa carreira raçuda
Mas a perna disse assim:
Meu filho espere por mim
porque eu sou boazuda



Por mais patética que a história possa parecer, aqui no Recife há aqueles que juram por tudo que é mais sagrado que conhecem alguém que conhece alguém que já teve um encontro macabro com essa criatura asquerosa de pêlos peçonhentos!!!

Agora eu queria saber.. e aí na sua terra??
o que lhe metia medo quando você era criança??


sexta-feira, 23 de maio de 2008

Vida de Doutorando: Exu Tranca Tese


Outro dia conversando com minha amiga Livia Antonia,
e desfilando meu eterno rosário de lamentações:
que esse doutorado acaba comigo mas eu não acabo com ele,
que eu sempre acho que mês tal eu termino,
e quando vejo mês tal chegou..
e a tese está quase no mesmo ponto em que estava antigamente.

entao, ela compadecida com minhas lamúrias, diagnosticou o meu problema e me apresentou a cura para ele, que nesse momento eu compartilho com vocês:

Ela disse que eu tinha um EXU TRANCA TESE na minha vida..

o diagnostico ela descobriu nessa comunidade do Orkut:
http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=1198557

Ler o texto de abertura da comunidade já foi um alívio pra mim, por ver que o meu problema é compartilhado por muitos:

"Você está na reta final da sua tese, dissertação ou monografia???
Você sente que existe uma força misteriosa que tira seu ânimo?
Faz seu orientador adoecer ou sumir do mapa inexplicavelmente?
Seu computador quebra ou é roubado com todos os seus dados e análises?
Lamento ser o portador dessa má notícia, mas...

VOCÊ TEM UM EXU TRANCA TESE NA SUA VIDA!!!

Junte-se a nós para exorcizar essa entidade que tantos problemas nos traz!!!"


e o melhor de tudo é que eles têm a solução para os nossos males!!!
Basta rezar a oração à Nossa Senhora Destrancadora de Teses!!
Seus problemas acabaram!! Livre-se do Exu, tranca tese!
Você deve evocar esta oração toda vez que for vítima de alguma das artimanhas do "Exu Tranca Tese" ou se quiser apenas proteção contra essa entidade!!!

"Nossa Sra. Destrancadora das Teses,
em ti confiamos para a proteção contra o Exu Tranca Tese,
nos proteja de:
Queimação de pen drive;
bibliografia em alemão;
visita fora de hora;
linha no word que não sobe com "del";
fotocopiadora quebrada.
Dá-me encontros com o orientador no corredor da Universidade
e livro emprestado com data de devolução pra 2050.
Ah, senhora,
livra-me também das perguntas indiscretas,
das dúvidas fora de hora,
e das certezas idem.
Ajuda-me a lembrar dos nomes dos autores
e da pronúncia deles,
assim como do modo como se faz notação de revistas.
Nossa Senhora,
livre-me de pensamentos acerca de minha tese durante meu sono.
Que eu possa dormir o sono dos justos impunemente,
sem que eu tenha que me levantar ou acender a luz
para anotar insights invasivos que detonam minha mente
quando preciso descansar para mais um dia de batalha!
Que tais pensamentos venham na hora certa,
quando me sento diante de meu PC
e eu não me torne um zumbi.
Ó Senhora,
desperta no meu orientador uma enorme vontade de ler minha tese.
Que ele a leia com olhos vigilantes,
para não deixar passar nenhuma monstruosidade,
mas também com olhos piedosos,
para me deixar enfrentar a banca.
E que a banca, Senhora,
me dê os apertos que achar necessários,
mas que ao final
assine a poderosa ata,
redenção final dos meus inúmeros pecados.
Nossa Senhora,
meu orientador insiste em dizer
que a minha tese está, entre aspas, uma merda,
mas eu sinto que a Senhora vai me dar um luz bem forte
e lançar como de um passe de mágica,
artigos que abram meu cérebro tão debilitado por tamanha pressão.
Minha Santa querida,
já que eu fiz esta escolha na minha vida
e sinto-me na obrigação de terminar,
me dá forças para não matar um!

AMEM!!!!"



(parenteses para alguns esclarecimentos)
Brincadeiras à parte...

como boa baiana e solidária ao sincretismo religioso, e totalmente contrária ao preconceito que cerca o candomblé, religião dos nossos ancestrais africanos, sinto-me na obrigação de esclarecer algumas inverdades sobre o que é o Exu...

Muitos pensam que Exu é sinônimo de Diabo, do coisa-ruim, do Satanás..
mas non non non

Exu combate o mal, devolve o que mandam de ruim, é justo, tem eqüidade em suas decisões e em seus trabalhos. Ele não é, e nunca foi o diabo.
Ele é o guardião dos caminhos, soldado dos Pretos-velhos e Caboclos,
emissário entre os homens e os Orixás,
lutador contra o mal, sempre de frente, sem medo, sem mandar recado.
Exu não faz mal a ninguém, mas joga para cima de quem merece,
quem realmente é mau o mal que essa pessoa fez a outra.
Ele devolve, as vezes com até mais força, os trabalhos que alguns fizeram contra outros.
Por isso, algumas pessoas consideram esse Orixá malvado.
As vezes temido, as vezes amado, mas sempre alegre, honesto e combatente da maldade no mundo.

terça-feira, 20 de maio de 2008

As agruras de ter um nome incomum

Cena 1 [ext] (portaria de um edifício residencial)
V.: Bom dia, o Mauro, por favor?
porteiro: Seu nome, por gentileza?
V.: Vaninha
porteiro: Só um minuto... Sr. Mauro? a DONA VANIA está aqui...
V.: =/


Cena 2 [int] (solenidade de defesa - uma sala da UFPE)

presidente da banca: Daremos início agora à defesa de qualificação do doutorado da aluna Vaninha..... mas... é Vaninha mesmo!!?? achei que era Vânia!
(todos riem)
(V. dá um sorrisinho amarelo e pensa: até tu, Brutus??)


Cena 3 [ext] (Repartição pública. Fila para tirar RG)

funcionário: Seu nome, por favor?
V.: Vaninha Vieira
funcionário: Vaninha? Não seria Vânia?
V.: Não senhor, é Vaninha. Assim mesmo, no diminutivo (e pensa: acha que não sei o meu próprio nome??)
funcionário: Olha, vou falar com meu supervisor, mas acho que a senhora não vai poder tirar o seu RG não. Vaninha não é nome, é apelido!! Quem foi que registrou a senhora assim??
V.: =/
(e pensa: pra que lugar devo mandar o senhor mesmo??)
(e ainda: ah, mainha, minha mãe... porque?? me diga, porque??!!)



Cena 4 [int] (Uma academia de fisioterapia em Paris, França)

V.: Bonjour, je viens pour le kiné.
kiné: D'accord. Quelle est votre nom?
V.: Vaninha Vieira
kiné: Vániná? ah la la... comme la chanson de Dave?
V.: Quelle chanson? C'est qui Dave?
kiné: Tu ne connais pas?? Marcel!! Tu te souviens de la chanson de Dave, Vanina?
Marcel: "Vanina, rappeles-toi... Vanina, si tu m'oublies... Vanina ha ha ha..."
kiné: Oui, oui, exactement... Vanina ha ha ha ...
V.: ah bon? c'est genial!!! =/
(et pense: raios!! mas, nem na França???)

(tradução)
V.: Bom dia. Vim para a fisioterapia.
fisio: Ok. Qual é o seu nome?
V.: Vaninha Vieira
fisio: Vániná? ah la la... como na música de Dave?
V.: Que música? Quem é Dave?
fisio: Você não conhece?? Marcel!! Você se lembra da canção de Dave, Vanina?
Marcel: "Vanina, lembre-se... Vanina, se você me esquecer... Vanina ha ha ha..."
fisio: Sim, sim, isso mesmo... Vanina ha ha ha ...
V.: ah é é? que massa!!! =/ (e pensa: raios!! mas, nem na França???)

Pra quem quiser conhecer essa música breguíssima dessa figura ímpar chamada Dave, aqui está o vídeo.. Vanina.. eu mereço! E coincidência é que ela estourou justo no ano em que eu nasci!!


Esse post foi inspirado no PHD Comics da semana passada:


Dedico aos amigos Helô (que não é Heloísa), Therezinha (que não é Thereza), Silvinha (que não é Sílvia), Serginho (que não é Sergio), outras Vaninhas (sim sim existem outras!), Tom, Zeca, Fred, Moreno, Preta, Brisa, Manhã, Ed, e todos os que já foram vítima de alguma piadinha por portar um nome incomum...

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Bienal - Zeca + Basquiat + NÃO à "arte" com animais







Jean Michel Basquiat

Tabac
1984.
Acrílica e pastel oleoso s/ tela, 219x173 cm.
Coleção particular.



Bienal

Composição: Zeca Baleiro / Zé Ramalho

Desmaterializando a obra de arte do fim do milênio
Faço um quadro com moléculas de hidrogênio
Fios de pentelho de um velho armênio
Cuspe de mosca, pão dormido, asa de barata torta

Meu conceito parece, à primeira vista,
Um barrococó figurativo neo-expressionista
Com pitadas de arte nouveau pós-surrealista
calcado da revalorização da natureza morta

Minha mãe certa vez disse-me um dia,
Vendo minha obra exposta na galeria,
"Meu filho, isso é mais estranho que o cu da jia
E muito mais feio que um hipopótamo insone"

Pra entender um trabalho tão moderno
É preciso ler o segundo caderno,
Calcular o produto bruto interno,
Multiplicar pelo valor das contas de água, luz e telefone,
Rodopiando na fúria do ciclone,
Reinvento o céu e o inferno

Minha mãe não entendeu o subtexto
Da arte desmaterializada no presente contexto
Reciclando o lixo lá do cesto
Chego a um resultado estético bacana

Com a graça de Deus e Basquiat
Nova York, me espere que eu vou já
Picharei com dendê de vatapá
Uma psicodélica baiana

Misturarei anáguas de viúva
Com tampinhas de pepsi e fanta uva
Um penico com água da última chuva,
Ampolas de injeção de penicilina

Desmaterializando a matéria
Com a arte pulsando na artéria
Boto fogo no gelo da Sibéria
Faço até cair neve em Teresina
Com o clarão do raio da silibrina
Desintegro o poder da bactéria

Guillermo Vargas
"você é o que você lê"
2007.


"um animal assim se converte em foco de atenção quando está em um lugar branco onde as pessoas vão ver arte, mas não quando está na rua morto de fome."

E enquanto morre o animal, pseudo intelectuais tomam espumante, comem canapés e destilam comentários "inteligentes", típicos de Caderno 2, para justificar a "arte" que seres "iletrados" não são capazes de enxergar.

domingo, 18 de maio de 2008

Série: A Vida de um Doutorando


A partir desse post começarei uma série onde comentarei, de tempos em tempos, as dores e as delícias de ser um candidato a um título de doutor (PhD Candidate).

Com o apoio, não autorizado, de PHD Comics, a novela favorita dos doutorandos e recém doutores em todo o globo.. porque só quem faz ou já fez um doutorado é capaz de nos entender...

e em tempo:
PhD e Doutorado é a mesma coisa!!
(para os que não aguentam mais responder àquela pergunta clássica: o que você vai fazer depois que terminar o doutorado? Vai fazer um PhD??)


Cenas dos próximos capítulos...


Ópera do Doutorando

uma tragédia em três atos,
um prólogo e um epílogo



Breve, aqui neste blog.

all images PHD © Jorge Cham

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Beth Gibbons e novo Portishead - Third
















"Esteja alerta para as regras dos três
O que você dá, retornará para você
Essa lição, você tem que aprender
Você só ganha o que você merece."

esse é o início da música Silence..
pois é com essa frase (assim mesmo em português, recitada por um brasileiro de sotaque meio nordestino e que eu desconheço quem seja) que começa o novo CD do Portishead, o aguardadíssimo Third. O disco foi lançado exatos 11 anos após o 'Portishead' de 1997.

O primeiro CD deles foi o magnífico 'Dummy', de 1994, de onde vieram pérolas como Glory Box, Roads, Numb, Mysterions, Sour Times, e outras.. impossível não se impressionar com esse CD...

Além desses, em 2002, Beth Gibbons gravou seu CD solo, junto com o Rustin Man, chamado Out of Season.. Desses, a música mais tocada foi a linda Tom the Model.

Conheci esse grupo apenas em 2001, no Rio, quando assistia à peça A Prova, com a Andréa Beltrão, e a música Glory Box toca ao final.. Fiquei encantada e de lá pra cá tenho acompanhado o trabalho de ambos.. Não me perdôo por ter perdido o show de Beth em 2002 no TIM Festival!!

Vídeos:Clique aqui pra escutar o Third completo...

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Charlotte Gainsbourg + Nina Simone in Nuovomondo


Ontem me lembrei desse filme que vi em Paris, em 2007. O filme chama-se Nuovomondo, aka Golden Door (veja o trailer), do cineasta Emanuele Crialese (ele inclusive estava presente na sessão e comentou o filme ao final..). O filme é uma versão bem poética e cheia de imagens fantásticas (esse fantástico aqui é de realismo fantástico mesmo), ao falar de um problema que afeta muitas pessoas em muitas épocas: a desesperança com a vida atual e o sonho de uma vida melhor em uma terra prometida. A terra da desesperança em questão é a Itália, Sicília, o ano é 1904. E a terra prometida é a "América" aka Estados Unidos. E, após ver fotos fabulosas da 'America' (como cebolas do tamanho de uma bola de alongamento, árvores que fabricam dinheiro, and so on), o sonhador e superticioso Mancuso decide que é hora de levar sua família para um lugar melhor. E decide partir nessa viagem rumo ao Novo Mundo. A partir daí o filme fala dessa viagem de navio (os encontros e os desencontros) e a passagem pelo controle de imigração (os medos e as frustrações).

Mas duas coisas pra mim foram marcantes nesse filme, além do filme em si. A primeira foi ver a maravilhosa Charlotte Gainsbourg em cena, como a misteriosa imigrante inglesa (viajando em um navio onde só tinham italianos e pra ser aceita na imigração ela precisa arrumar um homem que aceite se casar com ela).
Quem não conhece Charlotte, essa francesa ultra-tímida, mas super talentosa precisa ver esses vídeos aqui:
The songs that we sing, é o nome de uma canção dela que fez um enorme sucesso na França, e que eu particularmente adoro!! Nesse álbum ela gravou todas as músicas em inglês (embora seja francesa). E o motivo, ela disse que era pra tentar se dissociar um pouco do seu pai, o famoso cantor francês Serge Gainsbourg. Quem nunca ouviu aqueles versos quase pornográficos sussurrados: "uh uh uh uh Je t'aime... oui, je t'aime... moi non plus" (veja esse vídeo!!).
Encontrei, inclusive no Youtube (santo Youtube!!) esse vídeo que mostra Charlotte com seu pai Serge, ela novinha ainda (veja).

A segunda coisa que me marcou muito nesse filme foram os sustos que eu tomei quando em dois momentos chaves, começou a tocar ninguém menos do que Nina Simone.. com sua belíssima Feeling Good e a comovente Sinnerman. E pensar que eu nunca tinha prestado atenção em Nina até aquele dia (é, pois é, nem eu acredito!). Mas durante o filme, quando essas músicas começaram a tocar eu fiquei em estado total de êxtase.. mas só mesmo assistindo pra sentir o que eu estou dizendo. Depois disso, Nina faz pra sempre parte do meu acervo musical. E Sinnerman foi o meu hino nos tempos de angústia em Paris. Veja a letra abaixo pra entender. é que eu me colocava no lugar do tal pecador lá, que procurava ajuda em tudo quanto era lugar e todos mandavam ele pra um outro canto, até que só restou pedir ajuda ao diabo, que este sim o aguardava calorosamente..


Soundtrack: Golden Door (The)
Title: Sinnerman (Nina Simone)


Sinnerman where you gunna run to
Sinnerman where you gunna run to
Where you gunna run to
All on that day

Well I run to the rock
Please hide me I run to the rock
Please hide me I run to the rock
Please hide me lord
All on that day

Well the rock cried out
I can’t hide you the rock cried out
I can’t hide you the rock cried out
I ain’t gunna hide you god
All on that day

I said rock what’s a matter with you rock
Don’t you see I need you rock
Don’t let down
All on that day

So I run to the river
It was bleedin I run to the sea
It was bleedin I run to the sea
It was bleedin all on that day
So I run to the river it was boilin
I run to the sea it was boilin
I run to the sea it was boilin
All on that day

So I run to the lord
Please help me lord
Don’t you see me prayin
Don’t you see me down here prayin

But the lord said
Go to the devil
The lord said
Go to the devil
He said go to the devil
All on that day

So I ran to the devil
He was waiting
I ran to the devil he was waiting
I ran to the devil he was waiting
All on that day
Oh yeah

Oh I run to the river
It was boilin I run to the sea
It was boilin I run to the sea
It was boilin all on that day

So I ran to the lord
I said lord hide me
Please hide me
Please help me
All on that day

Said God where were you
When you are old and prayin
Lord lord hear me prayin
Lord lord hear me prayin
Lord lord hear me prayin
All on that day
Sinnerman you oughta be prayin
Oughta be prayin sinnerman

terça-feira, 13 de maio de 2008

Camille Dalmais


Eu tive contato com essa jovem e fantástica artista, em 2006, quando estudava francês no Dis Donc, e em uma das aulas, Murielle nos apresentou o clip da sua música de estréia, Paris (veja o vídeo!!)... Fiquei extasiada.. fiz a comparação óbvia com Björk.. e embora a professora (uma francesa) reclamasse da voz esganiçada e das letras debochadas, eu me apaixonei de cara.. e justamente por essas duas coisas.. Achei Camille um sopro de juventude e novidade no marasmo chato das canções francesas antigas que eu sempre tinha escutado (não que eu não ame Edith Piaf, Jacques Brel, Charles Aznavour, Serge Grainsborg, por favor, não é isso).. mas é que ela era diferente de tudo o que eu já tinha ouvido... e não era aquela coisinha xoxa da atual primeira dama francesa, Carla Bruni, que fazia sucesso na novela das oito com seu Quelqu'un m'a dit (tudo bem, eu tenho o meu passado negro com Quelqu'un m'a dit também, mas abafa!!).

Bom, nessa época, o Dis Donc planejava um festival de músicas francesas com seus alunos, e eu já sabia exatamente quem e o que gostaria de cantar.. e foi maravilhoso cantar Paris acompanhada do genial pianista, meu amigo Ewerton, que é outro fã de Camille..
essa foi inclusive uma performance musical que me rendeu uns 15 minutos de fama no curso de francês.. até hoje sou lembrada como a menina que cantou Camille no festival... tudo bem que rola um marketing de Carmen, mas ninguém precisa saber disso né?
tenho um vídeo desse momento, e talvez eu o coloque depois no Youtube, vamos ver..

E, pra completar a sucessão de fatos que fez Camille entrar pra sempre na minha vida, em abril/2006 ela veio a Recife, pro Festival Abril Pró-Rock.. meia dúzia de gatos pingados foram lá conferir o som experimental da moça, que naquela ocasião tinha lançado o seu segundo álbum, o FANTÁSTICO Le Fil (O Fio). Esse álbum tem uma característica super interessante: todas as faixas são ligadas por um fio invisível.. ela disse que "Tive vontade de encontrar o fio que me liga a mim mesma”.. E ela usa esse fio no palco em seu show também. E quando acaba o show o fio é cortado.

Nesse álbum algo que me chamou a atenção foram as percursões corporais em diversas músicas.. e que se tornam ainda mais impressionantes nas performances ao vivo..

Veja uma amostra do que estou falando no vídeo de Au Port..
e nesse vídeo de Ta Douleur
Ah, nesse vídeo tosco aqui ela faz percursão corporal junto com outros músicos, ao som de "Berimbau sim, berimbau não, berimba-berimba berimbau"... imperdível!!

Outro vídeo que gostei muito foi essa versão de La Demeure d'un Ciel, do álbum Le Sac Des Filles... só ela e uns sampleados feitos a partir da sua própria voz.. ela ia fazendo os vocalises, que iam sendo gravados e juntados à música e aos novos vocalises... Genial!

Enfim, espero ter podido iniciar alguém no mundo Camille.. é um universo sem volta..
muita gente não gosta, acho que eu arriscaria dizer que a maioria...
mas quem gosta fica apaixonado e querendo sempre mais.
(e devo dizer que as performances ao vivo dela são imperdíveis.. então se ela aparecer por aí na sua cidade, não hesite: vá ver!)

And that's all for now, folks

ah, o título do blog, La Jeune fille aux cheveux blancs (A jovem garota de cabelos brancos), é o título de uma música de Camille.. depois posto aqui..

now it's goodbye :)

domingo, 11 de maio de 2008

Pessoas e Adriana

A idéia de começar esse blog deve-se única e exclusivamente a uma necessidade pessoal de externar sentimentos, pensamentos, canções, momentos, idéias, sensações, percepções, emoções, e trazer para um espaço o que vaga pela minha mente...

Uma das propostas é celebrar o amor pelas pessoas. Em algum momento da minha vida eu perdi a fé no ser humano, e quero me retratar de alguma forma resgatando pessoas, simples, reais, desconhecidas, ou até conhecidas.. músicos, artistas, poetas, pintores, nerds, empreendedores, rostos em uma multidão de almas que refletem o que me componho agora.

Nessa mensagem de abertura, homenageio Adriana Calcanhotto (que certamente voltará em outros posts), cuja poesia me acompanha desde sempre e é uma referência em minha vida... foi de uma canção dela que tirei o nome e descrição desse blog (Seu Pensamento, álbum Maré, 2008)...

Tomo a licença poética de usar um texto dela para indicar a intenção desse blog...
ela fala da sua música, eu sei, mas acho que podemos abstrair um pouco né?




Minha Música
Adriana Calcanhotto,
álbum A Fábrica do Poema, 1994
Minha música não quer ser útil
não quer ser moda
não quer estar certa

Minha música não quer ser bela
não quer ser má
minha música não quer nascer pronta

Minha música não quer redimir mágoas
nem dividir águas
não quer traduzir
não quer protestar

Minha música não quer me pertencer
não quer ser sucesso
não quer ser reflexo
não quer revelar nada

Minha música não quer ser sujeito
não quer ser história
não quer ser resposta
não quer perguntar

Minha música quer estar além do gosto
não quer ter rosto, não quer ser cultura
minha música quer ser de categoria nenhuma
minha música quer só ser música:

Minha música não quer pouco.