segunda-feira, 19 de maio de 2008

Bienal - Zeca + Basquiat + NÃO à "arte" com animais







Jean Michel Basquiat

Tabac
1984.
Acrílica e pastel oleoso s/ tela, 219x173 cm.
Coleção particular.



Bienal

Composição: Zeca Baleiro / Zé Ramalho

Desmaterializando a obra de arte do fim do milênio
Faço um quadro com moléculas de hidrogênio
Fios de pentelho de um velho armênio
Cuspe de mosca, pão dormido, asa de barata torta

Meu conceito parece, à primeira vista,
Um barrococó figurativo neo-expressionista
Com pitadas de arte nouveau pós-surrealista
calcado da revalorização da natureza morta

Minha mãe certa vez disse-me um dia,
Vendo minha obra exposta na galeria,
"Meu filho, isso é mais estranho que o cu da jia
E muito mais feio que um hipopótamo insone"

Pra entender um trabalho tão moderno
É preciso ler o segundo caderno,
Calcular o produto bruto interno,
Multiplicar pelo valor das contas de água, luz e telefone,
Rodopiando na fúria do ciclone,
Reinvento o céu e o inferno

Minha mãe não entendeu o subtexto
Da arte desmaterializada no presente contexto
Reciclando o lixo lá do cesto
Chego a um resultado estético bacana

Com a graça de Deus e Basquiat
Nova York, me espere que eu vou já
Picharei com dendê de vatapá
Uma psicodélica baiana

Misturarei anáguas de viúva
Com tampinhas de pepsi e fanta uva
Um penico com água da última chuva,
Ampolas de injeção de penicilina

Desmaterializando a matéria
Com a arte pulsando na artéria
Boto fogo no gelo da Sibéria
Faço até cair neve em Teresina
Com o clarão do raio da silibrina
Desintegro o poder da bactéria

Guillermo Vargas
"você é o que você lê"
2007.


"um animal assim se converte em foco de atenção quando está em um lugar branco onde as pessoas vão ver arte, mas não quando está na rua morto de fome."

E enquanto morre o animal, pseudo intelectuais tomam espumante, comem canapés e destilam comentários "inteligentes", típicos de Caderno 2, para justificar a "arte" que seres "iletrados" não são capazes de enxergar.

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