segunda-feira, 26 de abril de 2010

Impressoes sobre a China: Dias 10, 11 e 12 - Xi'an e Pingyao

Ni Hao again!

Estive offline total por 2 dias, pois na pequena cidade medieval de Pingyao a briga Governo chinês x Google ganhou ares de força total pro governo.. nada, absolutamente nada, da Google funciona por lá..

a nossa guia nos explicou que a questão é que o governo chinês tem um motor de busca próprio (o
Baidu), que impede consultas a informações sobre o governo chinês.. eles exigem q a Google bloqueie esse tipo de consulta/retorno de informações, o q a empresa do Vale do Silício, adepta da liberdade, se recusa a fazer. Minha leitura é que em grandes cidades como Shanghai, Beijing e Xi'an a pressão do mundo ocidental leva o governo a aliviar a barra nessa disputa.. Mas na pequena Pingyao de apenas 400 mil habitantes (!) e que preserva uma vida e história similares à da era medieval, o governo se sente mais livre para impor suas leis.

Mas que foi estranho não ter acesso ao Gmail isso foi.. e a estranheza aumentou ao perceber o quão vulneráveis ficamos quando colocamos parte das nossas vidas nas mãos de uma única empresa.. é a Google ficar fora do ar pra gente ver como é difícil hoje viver sem eles. Me abriu a mente para pensar em planos Beta de controle das minhas informações..

Agora, online, a preocupação é com a volta ao Brasil.. diversos professores e pesquisadores brasileiros e europeus ficaram literalmente presos na China. Alguns tiveram q desembolsar uma pequena fortuna por conta propria, torcendo por um futuro reembolso.. outros estendem a viagem pagando pequenas fortunas de diárias de hotel (afinal, aqui nao tem nenhuma casa de amigo pra ficar)... e outros, como eu, estão apreensivos com o futuro vindouro: será q conseguirmos embarcar e voltar pro Brasil? ficar preso na Europa já seria um bom lucro em relação à situação atual. Família: aumentem a quantidade de reza por mim por aí para que meu voo Air France do dia 24 de abril 12h50 seja confirmado e decole efetivamente.. do contrário, não sei como farei.. hoje soubemos que o vulcão islandês voltou a cuspir cinzas... essa situação q estamos vivendo aqui é um absurdo total! essa história do vulcão é muito sui generis!
como disse Fabiola, é um chamado da natureza avisando: olha, quem manda nessa zorra aqui de terra, mares e tb céus sou eu, entenderam homos sapiens?

e falando em homos sapiens e poderes, conhecer o famoso museu dos Guerreiros de Terracota na histórica cidade de Xi'an e tb a história das primeiras dinastias chinesas, deu um pouquinho do gostinho de imaginar essa história dos homens exercendo os seus podres poderes...

A China é um país cheio de superstições.. e a morte e as tumbas dos mortos famosos e poderosos reservam tesouros fantásticos para arqueólogos e historiadores... percebemos em Xi'an que os grandes tesouros chineses vieram justamente dos tumbões dos famosos da época.. esses Guerreiros é um achado arqueológico super recente.. pouco mais de 30 anos apenas!! e já é um dos maiores tesouros da terra.. aqui no museu tem as estátuas, em tamanho natural, de mais de 6400 militares (soldados, generais...) e seus cavalos.. eles representam diferentes povos, cada um com uma expressão e fisionomia proprias.. alguns completamente intactos após muitos milhares de anos de sepultamento.. outros foram maravilhosamente reconstruídos.. é um verdadeiro tesouro..

Duas coisas me chamaram muito a atenção em relação aos guerreiros..

1. a idéia megalomaníaca do imperador Qin.. fala sério né? criar e enterrar 8000 soldados em tamanho natural para representar o poder do seu exercito?? se manque imperador Qin! um outro imperador de outra dinastia mais recente teve uma idéia menos mega.. criou pequenos
soldadinhos, menores, mas igualmente bonitinhos pra manter a tradição dos mausoléus protegidos.. E o mausoléu do Qin foi tao bem cuidado que tinha uma especie de telhado protegendo os soldados de argila.. isso explica sua preservacao apos tanto tempo. Mas q são lindas e muito impressionantes as estatuas, ah sao mesmo.. um lugar totalmente "must
see"

e
2. a rapidez com que a China percebeu o potencial turístico desse negócio. Em pouco menos de 30 anos eles construíram do zero uma mega-hiper-ultra estrutura a partir de uma fazendinha (foram fazendeiros que encontraram os guerreiros ao escavar para obter agua para suas plantacoes.. inclusive eles pensaram q estavam profanando um local sagrado e q por isso seriam perseguidos pelos demonios dosbancestrais).. vcs não têm noção da infra q é esse museu... eu fiqueibsó imaginando: gente, imagina se no Brasil a gente descobre um sítio arqueológico dessa natureza... quantos anos levaríamos para chegar a uma infra final da magnitude do museu de Xi'an?? e cheguei à conclusão de que não chegaríamos. Ou pela corrupção, ou pela morosidade, ou sei lá o que.. o sítio permaneceria uma fazendinha no meio do jeb-jeb até que ou as obras fossem destruídas, ou algum governo estrangeiro percebesse o potencial e se apoderasse do tesouro recém descoberto.. ponto para os chineses.. aprendamos com eles!

Outra cidade que visitei foi a medieval Pingyao... em 1997 essa cidade ganhou da Unesco o título de patrimônio histórico da humanidade, por ser considerada a cidade que ainda vive o estilo medieval mais conservada do mundo.
Minhas impressòes sobre Pingyao..
agora, finalmente, tive a possibilidade de conhecer "a China como ela é".. e confesso a vcs que a China fora do circuito das megalópolis Shanghai-Beijing, é muito muito pobre... isso não é surpresa pra ninguem, já sabiamos disso.. mas depois de Shanghai e sua pujança poderosa, ver a situação de Pingyao foi mesmo desoladora..



tem a história da cidade q é fantástica.. a cidade realmente vive como nos tempos medievais.. toda ladeada por uma grande muralha que cerca todo o centro.. na parte comercial tem um monte de casinhas chinesas bonitinhas com as lanterninhas vermelhas na frente, tudo lindo pra
turista e Unesco verem.. mas gente, as ruelas internas, cercada por diversos hutongs, que tristeza!! como fiquei chocada!
Hutong, pra quem não sabe, é uma espécie de cortiço.. as famílias chinesas antigamente (e ainda hoje em dia) costumavam compartilhar espaços, as áreas externas.. a arquitetura geral é: uma porta frontal de entrada, e três casinhas formando um quadrado. A casa em frente, melhorzinha, pega mais sol e os quartos são maiores, e as duas laterais menores.. todas muito pequenas, em geral contendo mais ou menos o quarto.. banheiros e cozinhas em geral são compartilhados.. dentro desse espaço compartilhado vimos toda sorte de coisas.. muita sujeita, muito lixo acumulado, roupas penduradas, mta coisa velha, pessoas visivelmente carentes..

O turismo deu uma impulsionada na cidade, sentida em suas lindas coleções de sapatos artesanais, feitos à mão (Angie, achei isso a sua cara!), as caixinhas de joias feitas em Laca, e a arte em papel cortado ..

a modernidade é percebida nos tetos com aquecedores solares..

as chaminés em todas as casas lembram o tempo em que as camas eram de tijolos e para aquecê-las no inverno o recurso era literalmente tacar fogo embaixo da cama...

e as muralhas lembram o quão antiga a cidade é.. cada torre, com seus bonequinhos de argila vistos por lentes de aumento, conta uma parte da história de guerras para proteger a cidade..

A chegada e saída da cidade, a secura dos campos sem árvores e sem folhas, contrastam com os belos pés de cerejeiras, um pouco de poesia no deserto árido da pobreza explicita.. uma paisagem q lembra muito o interiorzão da Bahia, e que nos lembra que o mundo é mais parecido do
que pensamos.. os letreiros com as letrinhas ilegíveis chinesas nos traz de volta à realidade de que estamos do outro lado do planeta.. mas bem que podia ser logo ali, no Haiti, ou em uma parte do nordeste brasileiro.

Ni hao e até a próximo, com fotos..

(Este texto foi originalmente escrito em 21 de abril de 2010 à 00:38 - horario chinês)

Nenhum comentário: