quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Celebração Primeira



Era noite quando eu nasci. 
Minha mãe se lembra de ter sido tarde. Não tão tarde pra já considerarmos madrugada. Não era madrugada. Era noite. Ela lembra que chamaram a parteira depois do anoitecer. Então acho que não dei muito trabalho para chegar. Apenas o espaço de uma noite, entre o entardecer e ainda antes da madrugada. Isso sim. Não era madrugada. Precisei dessa informação tão importante quando fui fazer o mapa astral, e a astróloga me pediu a hora de nascimento, disse que era pra saber qual era o Ascendente, informação das mais importantes. Na minha certidão de nascimento diz que nasci às 11 horas da manhã. Confiei no documento. Se diz que foi de manhã, então sim, às 11 horas. Bem. O fato é que não deu nada certo com esta hora. A Astróloga começou a ler o mapa, ficou incomodada, e de repente parou e falou: tem certeza mesmo que essa foi a hora que você nasceu? Ascendente em escorpião, era o que dizia. Bem, a astróloga garantiu que não era. Tudo bem que morte e renascimento são temas bem recorrentes na minha história. Sempre no fio da navalha. Mas não. Não foi de manhã. E nem de madrugada. Isso não foi. Sim, era de noite. Minha mãe disse que umas dez horas da noite, por aí. Quando alguém fala dessa forma, como saber a hora exata? Pode parecer uma informação insignificante, você pode pensar. Porque raios você precisa tanto saber a hora exata que nasceu? Bem, não só a hora exata importa. O local exato também. Se não nascesse onde nasci, mas em outro lugar qualquer do planeta, toda a configuração mudaria. Eu seria de fato outra pessoa. Isso quem diz não sou eu. São os cientistas da astrologia, que estudam a influência dos astros sobre cada ser vivente do globo terrestre, humano ou não humano. Então dá pra entender a minha inquietação em saber a hora exata em que nasci. Não ter essa informação é como se parte de mim não pudesse nunca ser desvendada pela ciência. Teria que ser experimentada de forma empírica, ad hoc, sei lá com quais instrumentos. Usar a intuição. Se sei a hora exata é bem simples. Seu ascendente é Áries, caso a hora tenha sido por volta das dez horas como minha mãe me disse. Se por um mero acaso, as dores das contrações distraíram alguns minutos a mais minha mãe Capricorniana, então tudo mudou. Se é às 22h30 meu ascendente já é Touro. E qualquer pessoa que conheça minimamente de astrologia entende o que eu tô falando. Ascendente em Áries, ou em Touro, ou ainda em Escorpião, muda tudo. Não! Preciso saber a hora exata. Ainda não tenho essa informação. Sigo com o "lá pelas dez horas da noite", fazendo algumas estimativas entre a chamada da parteira ao entardecer, e a certeza de que não foi de madrugada. Não, não foi. De madrugada não foi. Áries é a escolha. Foi o que disseram duas, ou talvez, três astrólogas diferentes. Áries! Com certeza, você é Áries. Você acha que pode ser Touro, por causa da Cauda do Dragão. Sua Cabeça do Dragão é em Escorpião, e por isso mesmo, a Cauda do Dragão é em Touro, pois são opostos complementares. Tá explicada a minha conexão com os temas recorrentes de morte e renascimento. E com os Dragões. 

Então é isso! Fui batizada Vaninha Vieira dos Santos, e consta que nasci já na cidade de Barra da Estiva, na Bahia, região Nordeste do Brasil, em uma casa de blocos, emassada, e pintada, no dia 14 de Agosto do ano de 1975, lá pelas dez horas da noite. No quarto onde nasci estavam a minha mãe, entregue ao seu 11o e último parto, em 21 anos de atividade gestacional, o meu pai (para minha enorme surpresa, que só descobri tempos depois quando estava no exercício de "tomar o pai", das constelações familiares), e a parteira da cidade, dona Alcina, que por ser parteira e o primeiro ser humano a ver a gente, a maioria dos moradores chamavam de Vó Cina. Quando imagino a cena deste quarto, me comovo. Acho romântico. Pai, Mãe, Parteira. Apenas isso. Bem minimalista. Entre o anoitecer e a madrugada. Mas antes da madrugada. E após o sol se por. Nessa hora da familia reunida na sala após o jantar, pra assistir juntos à novela. Nessa hora de sair com os amigos para celebrar o dia, nos famosos happy hour. Nessa exata hora em que todas as pessoas do mundo celebram o encerramento de mais um dia. A derradeira filha nascida na hora da celebração. Chego a uma bonita conclusão nesse instante: Eu sou a celebração do meu pai e da minha mãe. Nascida sob o signo solar de Leão, a criança, o sol, a alegria. Com Ascendente em Áries (definitivamente é Aries), e a Lua em Sagitário. Não havia fogueira, na noite em que nasci, até onde eu sei. Mas bem que poderia ter tido. O Fogo chegou anunciando a minha existência. Não à toa, é a ele que recorro sempre que preciso me lembrar quem sou. Ele me diz, me ensina, me orienta, me recoloca no eixo.




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