sexta-feira, 1 de maio de 2009

Santiago do Chile: Impressoes sobre a cidade e a vida jovem de albergues...



Uma das coisas que me chamam a atenção quando nos hospedamos em albergues da juventude em países estrangeiros é a riqueza de culturas às quais somos expostas. Aproveitar essa oportunidade de interação é um momento único para refletir sobre nós mesmos a partir da observação do outro: suas visões, suas culturas, seus valores, seus medos, seus anseios, seus sonhos, seus encantos.


Nessa ida a Santiago do Chile, o que ficou mais vivo em minha memória não foi a Plaza de Armas e o ir e vir de pessoas e turistas, e os velhinhos jogando xadrez... não foi a maravilhosa rua Lastarria, com seus cafés, teatros, galerias, lojas de artesanato e artistas de biotipos os mais diferentes..

não foi a agitada Bellavista, com seus dias calmos de casas coloridas, e suas noites animadas, cheias de gente querendo se divertir e amar livremente..


não foi o culto à poesia, estampada em paredes, menus, livros, revistas, calçadas, por meio dos versos inspiradores de Pablo Neruda, e suas casas que por si só são pura poesia e declarações de amor à sua Matilde (La Chascona)..

não foi o Mercado Central e a imensa variedade de mariscos, moluscos, peixes e crustáceos, dos quais certamente nunca ouvimos falar aqui no Brasil (alguém aí já comeu um Centollas, Locos, Cangrio, Ceviche, ... ? se não, deve!!)


não foi a visão poluída de um Andes quase invisível visto do alto do Cerro Santa Lucía, ou das luzes de uma moderna Santiago vista à noite do Cerro San Cristóbal...


não foram as diversas peças de jóias e artesanatos feitos em Lapis Lázuli, uma pedra azul que só existe no Chile e no Afeganistão...



não foram as pratarias mapuches, lembranças de um povo orgulhoso e guerreiro, que dominou essas terras antes que o Pedro Valdívia e sua trupe lá chegassem, a partir dos Andes..

não foram as várias imagens dos Moais que lembram a integração da Ilha de Páscoa ao território chileno..



não foi a hipocrisia de um povo ultra conservador, altamente influenciado pela igreja, e que toma café às 10 da manhã servido por jovens moças de pernas expostas e pinturas fortes, em trajes bastante ousados, aos olhares gulosos dos homens de negócios nos seus ternos, nos famosos "Café con piernas"...


não foram as impressionantes múmias do Museu Pre-Colombino, quase 2000 anos mais antigas do que os exemplares egípcios.. e o vasto acervo histórico, artístico e cultural sobre esse povo incrível que habitou os Andes muito antes dos europeus aqui chegarem..

não..

o que eu vou levar mais forte dentro de mim dessa viagem, dessa experiência, foi vivido na rua Monjitas, 506, exatamente em frente à saída do metrô Bellas Artes: o Andes Hostel. Ali, durante 7 dias pude conhecer, conviver e me encantar com uma diversidade de pessoas e acontecimentos que tornaram a visita a Santiago não apenas um momento de lazer e turismo, mas uma experiência forte de auto-análise e auto-conhecimento. Nesse período, passaram pelo quarto 32:

- brasileiras (muitas!) em viagem de turismo (aproveitando o 21 de abril e o 23 de abril para as cariocas - feriado de São Jorge, pra quem não sabe) ou em viagens de trabalho (como eu);

- indiana nascida nos EUA que abandonou emprego, namorado indiano, apartamento, móveis, família e se lançou por 6 meses em busca de si mesma em uma viagem pela América do Sul enquanto reflete se deve ou não ceder aos apelos culturais para realizar um típico casamento indiano;

- galesa de 18 anos que, falando um inglês quase incompreensível para nós latinos, enfrenta os desafios de desbravar sozinha novos horizontes, em uma experiência de 6 meses antes de começar a faculdade.. é o jeito deles de conhecer melhor sobre si mesmo e o mundo, antes de começar a vida adulta..

- alemã vinda de 6 meses no México, e há um ano longe de casa, que cansada da vida sem graça de farmacêutica, resolve se lançar pela América Latina, e para mergulhar na cultura local mais fortemente resolve trabalhar em fazendas de produtos agrícolas em troca de casa e comida;

- sul coreana viajando pela primeira vez, encantada com a espontaneidade latina;

- canadense morando nos EUA, que sempre responde à pergunta de onde você é dizendo sou do Canadá, antes de dizer: moro nos EUA.. pois sabe q ser norte-americana em terras latinas nunca é muito fácil.. o legado Bush ainda deixou suas marcas..

- escocesa, artista de rua, a diferente da família, que admira os trabalhos dos artistas de muro de São Paulo, tido como um dos melhores do mundo, e que me fez parar para observar com mais atenção os muros pichados, ops pichados não.. as artes expostas nos muros da cidade.. ao me explicar o quão difícil e planejado são essas pinturas não posso mais ficar indiferente a elas ao andar pelas cidades cinzentas..


- e além das meninas do 32, chilenos (a recepcionista mal humorada, frustrada em não poder exercer sua profissão de psicóloga), muito mais brasileiros, australianos, ... completam a torre de Babel..

Esses encontros com conversas altamente intensas em trocas de experiências, me levaram a refletir sobre valores, culturas, sobre o que é bom e o que é ruim em cada localidade, e especialmente o que é bom e o que é ruim em ser latina em geral, e brasileira em particular.



A conclusão a que cheguei foi: preciso sair mais vezes do Brasil e preciso mesmo fazer uma aventura dessas de me lançar por um mês, dois ou muito mais passando por diferentes países, vivendo mais dessa vida louca vida jovem de albergues. E gostaria, muito, de escrever um livro que fale sobre essas pessoas, esses jovens tão corajosos e tão ricos em vivências e sentimentos, e como esse tipo de viagem é capaz de mudar a vida de uma pessoa para sempre..



A pensar!

(Mais fotos disponíveis em http://picasaweb.google.fr/vaninha.vieira/SantiagoChile)

"Take me out tonight
Where there's music and there's people
who are young and alive
Driving in your car
I never never want to go home
Because I haven't got one anymore"


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