sábado, 7 de junho de 2008

Olhos Azuis - Jane Elliot - Uma aula sobre discriminação


Esse é um dos documentários mais incríveis que eu já vi.

Desde 1968, quando ganhou um Emmy pelo documentário “The Eye of the Storm”, a educadora americana Jane Elliot dedica-se à realização de workshops onde ela aplica um exercício de um dia de discriminação a um grupo de pessoas. O documentário Olhos Azuis conta a experiência de um desses workshops.

O workshop funciona da seguinte maneira:
Os participantes são expostos a um exercício de discriminação baseado na cor dos seus olhos. Os participantes de olhos azuis são marcados com um colar e são identificados como o grupo inferior. Todos os estereótipos negativos que geralmente são aplicados a mulheres, negros, homossexuais... por homens e pessoas brancas são aplicados a eles. Os que não possuem olhos azuis são designados como superiores e são incentivados a discriminar fortemente os "outros", chamados de forma depreciativa de "olhinhos azuis".

Durante o período de discriminação os olhos azuis são severamente criticados, xingados, tratados como inferiores, e tudo é atribuído somente à cor dos seus olhos. Frases do tipo: "isso só podia vir de um olho azul mesmo", ou "seu olhinho azul" (dita com total desprezo) são proferidos em vários momentos pelo instrutor e pelos participantes marcados como superiores. Os olhos azuis são obrigados a esperar um longo tempo em uma sala quente, sem comida, enquanto espera o início do workshop. Tudo isso para fazê-los se sentir realmente seres inferiores.

É muito impressionante ver o efeito da discriminação sobre o humor, auto-estima, auto-confiança e astral dos participantes. Como eles estavam ao início e como eles ficaram ao final. Muitos choram. Pedem que ela pare de tratá-los daquela maneira. E o mais interessante é que as vítimas de discriminação aqui são pessoas que fazem parte do grupo dominante na vida real, e portanto estao acostumados a discriminar e nunca a serem discriminadas.

Muitos questionam o método classificando-o como "cruel" e "desumano" (especialmente porque ela o aplica frequentemente em crianças da escola em que ela ensina). A professora já tem a resposta na ponta da língua e leva o espectador a refletir: se um dia, um único dia de discriminação causa tamanho efeito em uma pessoa, o que dizer de uma vida inteira cercada pelo preconceito? Como uma criança que é discriminada desde o momento do seu nascimento pode competir em igualdade com outra que é estimulada, amada e incentivada? Isso não é cruel? Não é totalmente desumano?

Um filme incrível, imperdível, para assistir com calma, refletindo sobre o que ocorre na tela, mas principalmente sobre nossas ações no dia a dia.. Será que muitas vezes não agimos como os olhos marrons sobre pessoas "de olhos azuis" por aí?

Descobri que alguém postou o filme legendado no youtube. Posto abaixo as duas primeiras partes, o restante pode ser encontrado nos links associados ao vídeo no endereço:
http://youtube.com/watch?v=4Ec22me4cQw&feature=related

Portanto, enjoy it! Só digo uma coisa: Vale a pena!! Mexeu muito comigo!



De olhos azuis - Blue eyed - Parte 1 de 12



De olhos azuis - Blue eyed - Parte 2 de 12

7 comentários:

Vaninha disse...

"Se algum branco gostaria de receber o mesmo tratamento dado aos cidadãos negros em nossa sociedade, levante-se.
(...)
Ninguém se levantou.
Isso deixa claro que vocês sabem o que está acontecendo. Vocês não querem isso para vocês.
Quero saber por que, então, aceitam isso e permitem que aconteça com os outros."
- Jane Elliot

Vaninha disse...

"Tempo difícil esse em que estamos, onde é mais fácil quebrar um átomo do que um preconceito"
- Albert Einstein

Nancy Lyra disse...

Ihhh, sei não, viu Vanis? Tenho pra mim que a semente do preconceito existe em todos os grupos sociais, sejam eles quais forem, e dos dois lados (já vi gay discriminando heteros e bis, negros discriminando brancos e por aí vai.) Mas concordo que há a construção de estereótipos negativos, como dissestes, e que existe uma certa debandada cultural (educação?) pro lado mais forte. Talvez seja um mal necessário, uma tentativa "natural" de construir leis sociais e permitir a evolução das pessoas, especialmente a minoria, nos meios em que vivem (Vou evitar essa discussão profunda hehehe).
Inclusive, é patente que as coisas estão mudando, não achas?
Eu teria muito a falar sobre este assunto, mas para não incorrer no erro da discriminação, não tecerei nenhum comentário parcial. Como você mesmo bem parafraseou, é mais fácil quebrar um átomo... até mesmo para que a gente perceba que nossos conceitos mais definidos se sustentam sobre bases frágeis ou ainda, que sequer saíram do estágio "pré".

Vaninha disse...

Nancy querida...

como assim não vai se alongar na discussão??? se a melhor parte de ter um blog é justamente essa!! lançar um assunto, e poder discuti-lo com os amigos e ouvir diferentes opiniões!!! e partilhar essas opinioes com outros...
e, como dizia nossa mestre Paxi: "se numa discussão entre 2 pessoas, as 2 sempre concordam, isso significa que uma delas não é necessária"..
e além disso, nós duas sabemos q bastam 5 min de conversa entre a gente pra já estarmos em discussões calorosas não é??

então, feel free pra dizer o q quiser.. e é óbvio q poderá ouvir tb o q n qr.. mas acho q disso vc n tem medo n é?

sendo assim, vou parafresear você aqui: "Talvez seja um mal necessário, uma tentativa "natural" de construir leis sociais e permitir a evolução das pessoas, especialmente a minoria, nos meios em que vivem"
????!!!!!!!!!!!!

fiquei bege com esse comment!!!!
acho q vc nunca foi vítima de discriminação na vida!!! ou talvez viva em um mundo cor de rosa onde pensa que todos são iguais perante a lei... q as mulheres ganham o mesmo q os homens.. q eles nos consideram tao capazes quanto eles.. q no Sul as mulheres nordestinas sao vistas como tao competentes quando as sulistas..

sugiro fortemente: Assista o vídeo!!!

eu poderia te contar N historias, muitas delas autobiográficas, onde o preconceito era usado como uma maneira de diminuir pessoas e colocá-las "no seu devido lugar".. mas aqui no Brasil fazemos isso de forma sutil, tão sutil, q os menos desavisados n percebem..

q o preconceito existe em todas as esferas é verdade (entre as minorias inclusive).. mas qdo esse preconceito é usado para determinar o poder de um grupo sobre o outro e garantir a manutenção desse poder, atraves da diminuicao da "minoria" e da introdução de conceitos depreciativos que todos acabam por aderir, então ele se torna bem perigoso e precisa ser de alguma forma combatido..

o papo é longo, e como eu adoro uma discussão, podemos seguir com ele, se quiseres... :)

Beijinhos!!

P.S.: e sim.. graças a deus as coisas estao começando paulatinamente a mudar... mas num ritmo tao lento!!!!! q o diga o nosso presidente.. aquele ali conhece o peso do preconceito e chegou onde chegou! palmas pra ele!!!

Nancy Lyra disse...

Alongar a discussão não tem qualquer ligação com exposição da vida pessoal, inclusive, eu procuro me despir de aspectos tendenciosos antes de analisar e emitir minha opinião. Estaria, de certo, restringindo o mundo a uma visão própria. Também não tenho a menor intenção em discorrer sobre minhas experiências, guardo para mim e para os meus o que tenho de mais valioso que é minha privacidade.

Mas me cutucastes, talvez por não ter entendido minhas palavras ou ainda, imbuída pelos seus pré conceitos atribuídos à minha pessoa nas duas ou três conversas que tivemos, que eu, particularmente, não considero calorosas. É difícil aceitar meu jeito questionador, né Vanis? Não é uma afronta pessoal a ninguém, nem carregado de emoção, portanto, nada caloroso.

Pois bem, não sou a favor de nenhum tipo de preconceito, o que disse, no entanto, é que ele existe dentro da minoria. Isso é um fato, e ainda bem que você concorda.
Quanto ao aspecto social do preconceito, procurei analisar na formação das bases. A idéia era questionar se sua existência é de todo um mal. Uma vez que, apesar das mazelas (essas sim inquestionáveis), os sobreviventes acabam por se fortalecer.
Eu tinha até pensado em citar Orwell em 1984, onde ilustra bem a formação de grupos e a luta pelo poder (político, social, ideológico). Entendeu o porquê não quis uma discussão profunda? Eu não tenho as respostas, e mesmo que eu me posicione em um lado, numa discussão vou sempre questionar os dois lados.

É lógico, Vanis, que eu preferia, de coração, que sequer houvessem grupos. Que ninguém sofresse por se sentir diferente, nem fosse excluído ou marginalizado. Mas infelizmente, cor, raça, credo, sexualidade, deficiências físicas e até mesmo IDÉIAS (veja só) são motivos de luta por poder, talvez (e eu digo talvez) a raiz da marginalização.

E antes que me jogues outra pedra, sim, eu combato o preconceito (talvez - e eu digo talvez de novo - menos que você). Mas estou muito longe de levantar bandeira por qualquer causa. Prefiro possibilitar o contato, aglutinando as forças e destruindo barreiras de grupos.

Nancy Lyra disse...

E tá bom, né? Senão você vai achar que essa mera exposição de idéias é uma discussão calorosa.

(Eu não podia deixar de cutucar, né?)

Vaninha disse...

tá bom??
bem, eu podia continuar.. rs
mas concordo q essa nao é a melhor mídia para esse tipo de discussao, que é polêmica, nao ha duvida..

sobre discussoes acaloradas, nao veja o meu comentario como uma critica.. longe disso!!!
sempre disse a você que admiro muito a sua capacidade de discordar e discutir..
eu te conheço pouco, mas essa é uma caracteristica sua q salta aos olhos, e digo isso de uma forma super positiva!!!
é admiravel ver pessoas que nao se conformam com verdades ditas por outros, e questionam todos os lados..
pra mim é raro encontrar pessoas q se posicionem dessa forma.. e eu as admiro sempre, mesmo que discorde das suas ideias e conceitos..
e acredito q se todos agissem assim: maiorias e minorias, a discriminação teria menos habitat pra se propagar..

beijos